De uma matéria do G1:
A cada geração, o QI medido em praticamente todo o mundo tem aumentado entre 15 e 20 pontos, ou o equivalente a um quinto da inteligência “total” de uma pessoa mediana (que “vale” 100 pontos).
O fenômeno bizarro tem nome: efeito Flynn. A expressão homenageia o pesquisador americano naturalizado neozelandês James Flynn, da Universidade de Otago, que estuda a variação da inteligência há décadas e foi o primeiro a dar de cara com o aumento progressivo de QI, nos anos 1980.
Esta pode ter sido uma das maiores descobertas das Ciências Sociais nas últimas décadas. A média dos testes de QI (o raciocínio lógico, que é apenas um dos vários tipos de “inteligência” que existem, fique bem claro) tem que ser reajustada ao longo dos anos (por que a média tende a crescer e ultrapassar 100). Em testes comparáveis feitos nos EUA e Europa Ocidental, pessoas com QI de 100 em 1910 teriam um QI de cerca 70 hoje (no limite do “retardo mental”), pessoas com QI de 80 naquela época (ainda na faixa normal hoje em dia), teriam QI de 50 atualmente (seriam consideradas como tendo “retardo mental” moderado). Evolução biológica não foi, não houve qualquer “seleção natural” entre seres humanos desde 1910. E mais interessante disso é que cerca de 90% do ganho não foi verificado nas questões com palavras, conhecimento “geral”, matemática, etc. o que seria óbvio efeito do aumento do estoque de conhecimento da sociedade, que obviamente cresceu diretamente com a maior escolarização, mas nas questões de raciocínio puro, lógico e espacial.
Pessoas de sociedades tradicionais, segundo entrevistas realizadas por psicólogos soviéticos, não conseguem responder de forma lógica uma questão do tipo “Se em Nova Zembla há sempre neve e onde sempre há neve os ursos são todos brancos, de que cor é um urso de Nova Zembla?” Elas respondem algo como “eu nunca vi um urso que não fosse negro” ou “nunca conheci alguém que foi em Nova Zembla”. O mundo imediato não abre espaço para abstrações, o que não significa que essas pessoas estejam erradas, claro. A resposta segue a lógica daquele contexto. Essa mudança só pode ser explicada pelo efeito do mundo simbólico extremamente complexo das sociedades modernas, onde há estímulos visuais auditivos, sensoriais, etc. constantes que ajudam a estimular nosso raciocínio lógico.
E isso não significa apenas “inteligência instrumental”, pesquisas também mostram que um QI maior também está correlacionado com um desenvolvimento sócio-moral maior, nos termos de Kohlberg (obviamente há exceções, psicopatas podem estar num nível de desenvolvimento sócio-moral pré-convencional e ter QI elevadíssimo, por exemplo). Então, é provável que a humanidade está caminhando ao mesmo tempo para um desenvolvimento sócio-moral maior (pena que até onde sei não existem estudos comparando as distribuições da escala de desenvolvimento moral ao longo das décadas).
Ao mesmo tempo que o QI é, em parte, determinado pela genética, o efeito da sociedade é incrível (algo semelhante ocorre com a altura, temos, em média, a altura de nossos pais, mas ao longo das décadas, a medida que a afluência do ambiente cresce, todos ficamos mais altos). Se mantivermos o caminho correto dos últimos 200 anos, que futuro maravilhoso não aguarda a humanidade?
Para saber mais (com legenda em português)