A vitória de Macron e a Paz Perpétua

Alguns meses após o plebiscito que deu vitória à posição pela saída do Reino Unido da União Europeia e a vitória de Trump no Colégio Eleitoral das eleições americanas, a eleição francesa do último domingo parecia o terceiro e derradeiro confronto a opor duas visões políticas, econômicas e culturais diametralmente opostas. De um lado, defensores do liberalismo político, do universalismo ético e das fronteiras (mais ou menos) porosas a pessoas e mercadorias. De outro, defensores de posições mais ou menos autocráticas de governo, do comunitarismo nacionalista e da autarquia econômica.

Muitos acreditavam tratar-se de um embate entre o mainstream político e seus oponentes de extrema-direita. Eu defendo que a divisão clássica entre esquerda e direita explica pouco do que tem acontecido nos últimos anos. Trump, líder de um movimento associado à direita radical americana, foi apoiado por Putin, que também apoiou Le Pen, mas também líderes radicais de esquerda, como Maduro. Mélenchon, o candidato da extrema-esquerda francesa, defendia posições econômicas muito parecidas com as de Le Pen e o enfraquecimento da União Europeia. Sua recusa em se posicionar no segundo turno entre um liberal centrista e uma radical de direita (que, por sinal, já havia apoiado o partido de extrema esquerda que atualmente governa a Grécia) pode ser reveladora.

Assim, creio que a grande disputa que se desenrola diante de nós é melhor descrita como entre os defensores da sociedade aberta e seus inimigos, defensores de alguma forma de tribalismo (nacional, étnico, classista ou identitário).

Os defensores da sociedade aberta, normalmente, se aglomeram em posições no entorno do centro político – liberais autênticos, conservadores de boa estirpe, democratas cristãos, socialdemocratas, verdes, etc. – enquanto os seus inimigos tribalistas se distribuem de uma ponta à outra do espectro político. Podem ser encontrados na extrema direita (nacionalistas chauvinistas, racistas empedernidos, etc.) e na extrema esquerda, seja ela “clássica” (nacionalismo terceiro-mundista, tribalismo de classe trabalhadora) ou, muito mais comumente, pós-moderna (coletivos negros, movimentos LGBT, grupos feministas radicais, etc.) dos campi universitários.

Leia mais no artigo do Ano Zero.

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