Depois de virar moda dizer que tudo é construção social, a reação é afirmar que nada, ou pouca coisa, da vida humana é construída socialmente, especialmente em algumas vulgarizações de modelos sociobiológicos. Na verdade, a maior parte da vida em sociedade é, sim, construída (parece uma obviedade, mas não custa repetir). Tudo o que se convencionou chamar de “instituições” são, de fato, construções: dinheiro, mercados, democracia liberal, os Correios, países, casamento, a presidência do Brasil, escolas, o islã, fórmulas de herança, partidos políticos, escrita, constituições, etc. A lista é infinita.
A Sociologia foi definida por seu fundador acadêmico, Durkheim, como “a ciência das instituições”. E enquanto ela cumpriu, bem ou mal, esse papel foi a mais importante das ciências sociais – a profissão de sociólogo era uma das mais respeitadas, o curso formava 30 mil estudantes por ano só nos EUA (em geral, empregados após a formatura), etc.. Quando, porém, os sociólogos passaram a pautar seus trabalhos pela tautologia de que instituições sociais são construídas socialmente, ou, pior ainda, de que coisas como o sexo biológico, a tuberculose, a obesidade, ou mesmo a gravidade e a realidade física são construções sociais, veio o declínio. Dentro das ciências sociais, foi ultrapassada em prestígio e cientificidade pela Economia, Psicologia e Linguística. Fora, é ameaçada pela Genética e pela Biologia em geral. Para o público leigo, virou coisa de vendedor de miçangas e até de charlatão.
Podemos nos aproximar empiricamente desse fenômeno através de dois gráficos retirados do Ngram Viewer, uma ferramenta do Google que permite ver o percentual de cobertura de alguns termos dentro de um corpus de livros (no caso, quase todos os livros publicados em inglês de 1500 até 2008). Não é um material limitado a livros científicos, mas é uma ótima sondagem do ambiente intelectual geral em cada década. Abaixo, notamos que o auge de interesse da Sociologia ocorreu, primeiro, nos anos 1930 e, depois, nos anos 1970. Desde lá, o declínio vem sendo inexorável, enquanto a Genética e a Biologia ganham espaço.
No segundo gráfico, notamos algo surpreendente: o declínio do interesse geral pela Sociologia está fortemente correlacionado com a queda no interesse nas “instituições sociais” e com o crescimento explosivo, desde os anos 1970, do interesse em “construções sociais” – um termo que quase não aparecia antes dessa década.
A conclusão é óbvia: o declínio da Sociologia corresponde exatamente ao período em que abandonou sua vocação clássica de ser a Ciência das Instituições e passou a se pautar pelo “lacre”, nihilismo e “desconstrução” associados a ideia de que tudo é construção social. Os clássicos, embora certamente conhecessem a natureza socialmente construída das instituições, não utilizavam o termo, pois eles sabiam que a afirmação de que as instituições sociais são construções sociais é tautológica, portanto inútil. Da mesma forma, graças à formação sólida em filosofia e ciências naturais que a maioria teve, eles sabiam que os mundos natural, biológico e mesmo psicológico não se reduzem a construções históricas.